segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pacto moderno


Fiz um pacto com o diabo

reconhei firma, assinei contrato

tudo em duas vias e xerocado

nesses tempos conturbados

até o diabo anda cismado.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

AOS VINTE E SETE

No último dia quatro de junho, completei 27 anos. Digo isso, e pode parecer bobagem, mas é que o 27 é o mais cabalístico dos números, fato desconhecido pela maioria das pessoas. De acordo com a numerologia, o 27 significa transição de um estágio. Os especialistas dizem que a cada nove anos os indivíduos experimentam uma transição na vida, e que o 27 é a idade da passagem.
O poeta, músico e compositor Noel Rosa morreu em 1937, ano em que completaria 27 anos. Deixou mais de duzentas músicas compostas sozinhas ou em parceria, das quais, pelo menos a metade, é de composições que marcaram a história. No mesmo ano, morreu o poeta coreano Yin Sang, quando estava prestes a completar os fatídicos 27, caso não sucumbisse à tuberculose, grande mal da época.
No ano de 1938, morreu o músico e pai do blues, Robert Johnson, exatamente aos 27 anos. O músico do Mississipi reinventou o blues com novos acordes e harmonias. Diz a lenda que ele fez um acordo com o diabo, dando-lhe a alma em troca do talento musical, fato assumido em várias canções de Johnson e, também, no filme “A Encruzilhada”, cuja história é baseada na vida do músico.
O poeta e jornalista piauiense Torquato Neto, o anjo torto, pai do movimento da tropicália no Brasil, abriu o gás aos 27 anos. Deixou inúmeros textos e músicas, muitos escritos em parceria com Gilberto Gil e Caetano Veloso. E foi aos 27 que jogaram a toalha os músicos Jim Morrison, vocalista do conjunto The Doors e Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, ícones do rock mundial. Morrison foi encontrado morto pela namorada na banheira de seu apartamento em Paris. Os exames apontaram ataque cardíaco por overdose de heroína. Já Cobain suicidou-se no ápice da fama, com um tiro de espingarda na cabeça. O corpo foi encontrado por um eletricista que arrombou a janela do músico, após desconfiar que havia “algo errado”. Ao lado do corpo estava uma carta, escrita com tinta vermelha, endereçada a mulher e a filha.
No ano de 1970, dois músicos de renome no cenário mundial bateram as botas, ambos aos 27: o guitarrista Jimi Hendrix, que morreu, supostamente, asfixiado pelo próprio vômito, e a cantora Janis Joplin, por overdose de heroína. Um ano antes, mas também aos 27 anos, o ex-integrante do conjunto Rolling Stones, Brian Jones, foi encontrado morto, boiando na piscina de casa.
Também, o poeta português Mario de Sá Carneiro se matou aos 27, em um quarto de hotel. Ele tinha a mesma idade do poeta austríaco George Trakl quando morreu. E foi na casa dos famigerados 27, que o poeta e compositor inglês Nick Drake pediu a conta.
O fato mais curioso ocorreu com o ex-Beatle Paul McCartney. Existe um boato em que o baixista teria morrido em um acidente aéreo, aos 27, e logo em seguida substituído por um sósia. Mas boatos são só boatos.
A própria morte de Jesus Cristo, ocorrida na sexta-feira santa, se analisada de acordo com o calendário Juliano, foi em um dia 27 de março. Também em um dia 27, do mês de julho, morreu em Lisboa o ditador António de Oliveira Salazar.
Muitos outros deixaram a história aos 27, como o pioneiro do rock inglês, Frederick Heath, mais conhecido como Johnny Kidd e Gary Thain, ex-integrante da banda Uriah Heep, assim como o diretor de cinema romeno, Cristian Nemescu, premiado no 60º Festival de Cannes pelo filme "California Dreaming".
Como disse, acabei de completar 27 anos e, até onde se sabe, continuo vivo.

Lucas Palhares tem 27 anos e não recebeu prêmios em concursos de poesia; nunca publicou um livro sequer; não foi citado em nenhuma tese de mestrado; não ganhou o segundo lugar no concurso de poesia; ficou longe do terceiro lugar; não publicou seus poemas nem no jornalzinho da escola; escreveu músicas que nunca serão cantadas; não teve nenhum trabalho adotado para o vestibular da Federal, muito menos ganhou uma menção honrosa no concurso de poesia; plagiou seu próprio texto; não conseguiu agradar nem a própria mãe com seu trabalho, nunca foi um escritor de verdade e faz bicos como jornalista para sobreviver.

Inspirado no livro “O Ego Excêntrico”, de Makely Ka, escrito quando o autor estava com 27 anos

Mulheres tarja preta podem causar dependência

Escorreguei meu olhar pelo esguio e delicado corpo de cabelos negros daquela menina quase índia. Visitei olhos, beijos e carícias. E nem assim sua língua me disse palavra, somente teu riso me envolveu em nossos obscenos e infantis telefonemas noturnos, como convém aos anjos pornográficos.
E por você – e só por você – eu me esqueci de minhas virtudes, e vícios, e pudores, e poderes. E manchei minha boca em seu batom vermelho. E acabei meu fôlego no castanho de seus olhos.
Para me livrar da surdez que anestesiou meus ouvidos após te ver entrar no carro e ir embora por mais uma noite, uma foto 3 x 4 e um espelho opaco, que mais nada refletia.
“Quero um caldo de mandioca”, ela disse. Eu respondi “quero você”, me beija que não amolo, nem a faca nem a palavra. Branco no branco, língua na língua. Aquela gula de quem experimenta um sabor pela primeira vez. Ela retribuiu, eu me lembro, por alguns momentos que pareceram vários (o tempo só pode ter parado aí).
Sem penas, enfim, nos tornamos assim: dois pontos em um só verso.